Amor Platônico e Tomás Antônio Gonzaga


AMOR PLATÔNICO E TOMAZ ANTÔNIO GONZAGA

Esse texto é sobre o Platonismo e Tomás Antônio Gonzaga, o amor Platônico é desprovido de laços carnais ou paixões é um amor puro tal como a amizade, Tomás Antônio Gonzaga mistificou essa filosofia com a sua obra "Marília de Dirceu" está muito interessante esse texto pois tem comentários rápidos nas estrofes poéticas das liras.



Amor Platônico  na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de gêneros diferentes - como num caso de amizade pura, entre duas pessoas.
Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, o filósofo grego da Antigüidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O Amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse (mesmo o sexual), mas na virtude.

"Platão, Filósofo e Matemático Grego"


O termo Amor Platônico foi pela primeira vez utilizado no século XV, pelo filósofo neoplatônico florentino Marsilio Ficino, como um sinônimo de amor socrático. Ambas as expressões significam um amor centrado na beleza do caráter e na inteligência de uma pessoa, em vez de em seus atributos físicos. Referem-se ao laço especial de afeto entre dois homens a que Platão tinha se referido num de seus diálogos, exemplificando-o com o afeto que havia entre Sócrates e seus discípulos homens, em particular entre Sócrates e Alcibíades.


A expressão ganhou nova acepção com a publicação da obra de Sir William Davenant, "Platonic Lovers" ("Amantes platônicos" - 1636), onde o poeta inglês baseia-se na concepção de amor contida no Simpósio de Platão, do amor como sendo a raiz de todas as virtudes e da verdade.
O amor platônico passou a ser entendido como um amor à distância, que não se aproxima, não toca, não envolve. Reveste-se de fantasias e de idealização. O objeto do amor é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem máculas. Parece que o amor platônico distancia-se da realidade e, como foge do real, mistura-se com o mundo do sonho e da fantasia.
Ocorre de maneira freqüente na adolescência e em adultos jovens, principalmente nos indivíduos mais tímidos, introvertidos, que sentem uma maior dificuldade de aproximar-se do objeto de amor, por insegurança, imaturidade ou inibição do ponto de vista emocional.

"Tomás Antônio Gonzaga"


TOMÁS ANTONIO GONZAGA (Miragaia, Porto, 11 de agosto de 1744 — Ilha de Moçambique, 1810), cujo nome arcádico é Dirceu  foi um jurista, poeta e ativista político luso-brasileiro. Considerado o mais proeminente dos poetas árcades, é ainda hoje estudado em escolas e universidades por seu "Marília de Dirceu" (versos notadamente árcades feitos para sua amada Marília O GRANDE AMOR PLATÔNICO REAL DA VIDA  DELE...

Ele nasceu em Miragaia, freguesia da cidade portuguesa do Porto. Era filho de mãe portuguesa e pai brasileiro. Órfão de mãe no primeiro ano de vida, mudou-se com o pai, magistrado brasileiro para Pernambuco em 1751 depois para a Bahia, onde estudou no Colégio dos Jesuítas. Em 1761, voltou a Portugal para cursar Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se bacharel em Leis em 1768. Com intenção de lecionar naquela universidade, escreveu a tese Tratado de Direito Natural  no qual enfocava o tema sob o ponto de vista tomista, mas depois trocou as pretensões ao magistério superior pela magistratura.Exerceu o cargo de juiz de fora na cidade de Beja, em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, então conheceu a adolescente de apenas quinze anos Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, a pastora Marília em uma das possíveis interpretações de seus poemas, que teria sido imortalizada em sua obra lírica (Marília de Dirceu) - apesar de ser muito discutível essa versão, tendo em vista as regras retórico-poéticas que prevaleciam no século XVIII, época em que o poema fora escrito.
Durante sua permanência em Minas Gerais, escreve Cartas Chilenas, poema satírico em forma de epístolas, uma violenta crítica ao governo colonial. Promovido a desembargador da relação da Bahia em 1786, resolve pedir em casamento Maria Doroteia dois anos depois. O casamento é marcado para o final do mês de maio de 1789. Como era pobre e bem mais velho que ela, sofreu oposição da família da noiva.
Por seu papel na Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira (primeira grande revolta pró-independência do Brasil), trabalhando junto de outros personagens dessa revolta como: Cláudio Manoel da Costa, Silva Alvraenga e Alvarenga Peixoto, é acusado de conspiração e preso em 1789, cumprindo sua pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados. Foi, portanto, separado de sua amada, Maria Doroteia. Permanece em reclusão por três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. Em 1792, sua pena é comutada em degredo e o poeta é enviado a costa oriental da África, a fim de cumprir, em Moçambique, a sentença de dez anos.
No mesmo ano é lançada em Lisboa a primeira parte de Marília de Dirceu, com 33 liras (nota-se que não houve participação, portanto, do poeta na edição desse conjunto de liras, e até hoje não se sabe quem teria feito, provavelmente irmãos de maçonaria). No país africano trabalha como advogado e hospeda-se em casa de abastado comerciante de escravos, vindo a se casar em 1793 com a filha dele, Juliana de Sousa Mascarenhas ("pessoa de muitos dotes e poucas letras"),com quem teve dois filhos: Ana Mascarenhas Gonzaga e Alexandre Mascarenhas Gonzaga, vivendo depois disso, durante quinze anos, rico e considerado, até morrer em 1810, acometido por uma grave doença. Em 1799, é publicada a segunda parte de Marília de Dirceu, com mais 65 liras. No desterro, ocupou os cargos de procurador da Coroa e Fazenda, e o de juiz de Alfândega de Moçambique (cargo que exercia quando morreu). Gonzaga foi muito admirado por poetas Romantismo/românticos como Casimiro de Abreu e Castro Alves. É patrono da cadeira de número 37 da Academia Brasileira de Letras.
Suas principais obras são: Tratado de Direito Natural; Marília de Dirceu (coleção de poesias líricas, publicadas em três partes, em 1792, 1799 e 1812 - hoje sabe-se que a terceira parte não foi escrita pelo poeta); Cartas Chilenas (impressas em conjunto em 1863).


Características Literárias


A poesia de Tomás Antonio Gonzaga apresenta as típicas características árcades e neoclássicas: o pastoril, o bucólico, a Natureza amena, o equilíbrio etc. Paralelamente, possui características pré-românticas (principalmente na segunda parte de Marília de Dirceu, escrita na prisão): confissões de sentimento pessoal, ênfase emotiva estranha aos padrões do neoclassicismo, descrição de paisagens brasileiras, etc.
O convívio com o Iluminismo põe em seu estilo a preocupação em atenuar as tensões e racionalizar os conflitos.
Tomás Antonio Gonzaga escreveu versos marcados por expressão própria, pela harmonização dos elementos racionais e afetivos e por um leve toque de sensualidade. Segundo Alfredo Bosi, Gonzaga está acima de tudo preocupado em "achar a versão literária mais justa dos seus cuidados". Assim, "a figura de Marília, os amores ainda não realizados e a mágoa da separação entram apenas como 'ocasiões' no cancioneiro de Dirceu", o que diferencia o autor dos seus futuros colegas românticos.





Marília de Dirceu 


As liras a sua pastora idealizada refletem a trajetória do poeta, na qual a prisão atua como um divisor de águas(a segunda parte do livro é contada dentro da prisão). Antes do encarceramento, num tom de fidelidade, canta a ventura da iniciação amorosa, a satisfação do amante, que, valorizando o momento presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza amena, que ora é européia e ora mineira. Depois da reclusão, num tom trágico de desalento, canta o infortúnio, a injustiça (ele se considera inocente, portanto, injustiçado), o destino e a eterna consolação no amor da figura de Marília. São compostas em redondilha menor ou decassílabos quebrados. Expressam a simplicidade e gracioso lirismo íntimo, decorrentes da naturalidade e da singeleza no trato dos sentimentos e da escolha lingüística. Ao delegar posição poética a um campesino, sob cuja pele se esconde um elemento civilizado, Gonzaga demonstra mais uma vez suas diferenças com a filosofia romântica, pois segue o descrito nas regras para a confecção de éclogas nos manuais de poética da época, que instruem aos poetas que buscam a superação dos antigos, imitando-os, a utilizações de eu-líricos que se aproximem as figuras de pastores, caçadores, hortelãos e vaqueiros.
Marília é ora morena, ora loira. O que comprova não ser a pastora, Maria Dorotéia na vida real, mas uma figura simbólica que servia à poesia de Tomás Antonio Gonzaga. É anacronismo destinar ao sentimento existente entre o poeta e Maria Dorotéia a motivação para a confecção dos poemas, tendo em vista que esse pensamento só surgiu com o pensamento Romântico, no século XIX. É mais cabível a teoria de inspiração no ideal de emulação, que configurava o sentimento poético da época, baseado nas filosofias retórico-poéticas vigentes, em que o poeta, seguinto inúmeras regras de confecção, "imitava" os poetas antigos procurando superá-los. Muitos pouco conhecedores de literatura podem acreditar que o poeta cai em contradições, ora assumindo a postura de pastor que cuida de ovelhas e vive numa choça no alto do monte, ora a do burguês Dr. Tomás Antonio Gonzaga, juiz que lê altos volumes instalados em espaçosa mesa, mas o fazem por analisar os poemas com critérios anacrônicos à época, analisam com pensamentos surgidos após o Romantismo, textos que o precedem.
É interessante atentar para alguns aspectos dessa obra de Gonzaga. Cada lira é um dialogo de Dirceu com sua pastora Marília, mas, embora a obra tenha a estrutura de um diálogo, só Dirceu fala (trata-se de um monólogo), chamando Marília em geral com vocativos. Como bem lembra o crítico Antonio Candido, o melhor título para a obra seria Dirceu de Marília, mas o patriarcalismo de Gonzaga nunca lhe permitiria pôr-se como a coisa possuída.Sem esquecer que Tomás Antonio Gonzaga morreu de paixão.Ele foi mandando para a Ilha das Cobras no Rio de Janeiro,depois para Moçambique na África.Casando-se com uma filha de um mercador de escravos;diga-se de passagem:Logo ele que era totalmente contra a escravidão.



TRECHOS DE MARÍLIA DE DIRCEU


Lira XXVII


Cupido tirando
Dos ombros a aljava
Num campo de flores
Contente brincava.


E o corpo tenrinho
Depois, enfadado,
Incauto reclina
Na relva do prado.


Marília formosa,
Que ao Deus conhecia,
Oculta espreitava
Quanto ele fazia.


Mal julga que dorme
Se chega contente,
As armas lhe furta,
E o Deus a não sente.


Os Faunos, mal viram
As armas roubadas,
Saíram das grutas
Soltando risadas.


Acorda Cupido,
E a causa sabendo,
A quantos o insultam
Responde, dizendo:


"Temíeis as setas
"Nas minhas mãos cruas!
"Vereis o que podem
"Agora nas suas."


"nesse trecho ele invoca os faunos, cupido do Deus do amor na mitologia grega  (características neo classicistas) em efocação a amada Marília"



Lira I, parte 1 


Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, 
Que viva de guardar alheio gado, 
De tosco trato, de expressões grosseiro, 
Dos frios gelos e dos sóis queimado. 
Tenho próprio casal e nele assisto; 
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, 
E mais as finas lãs, de que visto. 


"Nesse trecho características trovadorescas,  as quais ressalta um casal de Pastores vivendo a vida no campo  em plena felicidade" 


Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
Eu vi o meu semblante numa fonte, 
Dos anos inda não está cortado; 
Os Pastores, que habitam este monte, 
Respeitam o poder do meu cajado. 
Com tal destreza toco a sanfoninha, 
Que inveja até me tem o próprio Alceste: 
Ao som dela concerto a voz celeste 
Nem canto letra que não seja minha. 


"Trecho com características trovadorescas, citando os Pastores, o instrumento pelo qual eles conduzem as ovelhas e a terra aonde habitam".


Lira XII, parte 2 


... Quando levares, Marília, 
Teu ledo rebanho ao prado, 
Tu dirás: Aqui trazia 
Dirceu também o seu gado. 
Verás os sítios ditosos 
Onde, Marília, te dava 
Doces beijos amorosos 
Nos dedos da branca mão. 


"Nesse trecho características trovadorescas "descrevendo o carinho a qual Marília tratava seu Pastor."


Mandarás aos surdos Deuses 
Novos suspiros em vão. 
Quando à janela saíres, 
Sem quereres, descuidada, 
Tu verás, Marília, a minha 
E minha pobre morada. 
Tu dirás então contigo: 
Ali Dirceu esperava 
Para me levar consigo; 
E ali sofreu a prisão. 


"Trecho da prisão,  a qual acometeu Tomás Antônio, e como Dirceu ele delirou..."
(Mandarás aos surdos Deuses 
Novos suspiros em vão.)


Lira XV, parte 2 


Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro, 
Fui honrado Pastor da tua Aldeia; 
Vestia finas lãs e tinha sempre 
A minha choça do preciso cheia. 
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado. 


" Características trovadorescas/árcades" , cita o cajado, instrumento, o qual é utilizado para conduzir o rebanho, o Pastor e Pastora em meio à natureza."


Para ter que te dar, é que eu queria 
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos 
Ainda muito mais que um grande Trono. 
Agora que te oferte já não vejo, 
Além de um puro amor, de um são desejo. 

Trecho de exaltação do amor a Marilia, a Pastora tão amada e querida".


Lira XIV – parte 1 


Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça
Estão os mesmos deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
(...)


"Sem dúvidas características  neo-classicistas ", invocando o Deus Apolo da beleza na mitologia grega, características arcades sobre a vida  campo e o Pastorio."


Ah! Enquanto os destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim, façamos, doce amada,
Nossos breves dias mais ditosos.
Um coração, que, frouxo,
A grata posse de seu bem difere
A si, Marília, a si próprio rouba,
A si próprio fere.
Ornemos nossas testas com flores
E façamos de feno um brando leito
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter o tempo corre;
E para nós o tempo, que passa,
Também, Marília, morre.


"Nesses trecho, o Platonismo representado pelo amor extremo que leva a Morte, e uma possível exaltação do amor pós morte, "um futuro  romantismo".


Lira III – parte 3

Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos, 
Ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro 
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza; 
Lançar os grãos nas covas.


"No trecho acima, características trovadorescas, sobre a terra, os campos de Marília".


Lira XIX – parte 2


Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha ideia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca, e mata.
Quando em eu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto, e escuto
A tua voz, e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos;
Eu beijo a tíbia luz em vez de face;
E aperto sobre o peito em vão os braços.


" Devaneios na  prisão, imaginando a doce amada Marília nos seus braços em um eterno amor" 


Lira II – parte 2


Esprema a vil calúnia muito embora
Enter as mãos denegridas, e insolentes,
Os venenos das plantas,
E das bravas serpentes.
Chovam raios e raios, no meu rosto
Não hás de ver, Marília, o medo escrito:
O medo perturbador,
Que infunde o vil delito.
Podem muito, conheço, podem muito,
As fúrias infernais, que Pluto move;
Mas pode mais que todas 
Um dedo só de Jove.
Este Deus converteu em flor mimosa,
A quem seu nome dera, a Narciso;
Fez de muitos os Astros,
Qu'inda no Céu diviso.
Ele pode livrar-me das injúrias
Do néscio, do atrevido ingrato povo;
Em nova flor mudar-me,
Mudar-me em Astro novo.
Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
Em tão tirano mal me não socorrem;
Verás então, que os sábios,
Bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração..., e basta,
Onde tu mesma cabes.


"O  eu lírico desorientado, enclausurado, 
encontramos características neo classicistas, referenciando Narciso e mitologia grega".


Lira XXVI


Alexandre, Marília, qual o rio,
Que engrossando no inverno tudo arrasa,
Na frente das coortes
Cerca, vence, abrasa
As cidades mais fortes.
Foi na glória das armas o primeiro;
Morreu na flor dos anos, e já tinha
Vencido o mundo inteiro.
Mas este bom soldado, cujo nome
Não há poder algum, que não abata,
Foi, Marília, somente
Um ditoso pirata,
Um salteador valente.
Se não tem uma fama baixa, e escura,
Foi por se pôr ao lado da injustiça
A insolente ventura.
O grande César, cujo nome voa,
À sua mesma Pátria a fé quebranta;
Na mão a espada toma,
Oprime-lhe a garganta,
Dá Senhores a Roma.
Consegue ser herói por um delito;
Se acaso não vencesse, então seria
Um vil traidor proscrito.


"Características neo classicistas históricas contanto Cesar e Roma"


O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os Impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói pobre,
Como o maior Augusto.
Eu é que sou herói, Marília bela,
Segundo da virtude a honrosa estrada:
Ganhei, ganhei um trono,
Ah! não manchei a espada,
Não roubei ao dono.
Ergui-o no teu peito, e nos teus braços:
E valem muito mais que o mundo inteiro
Uns tão ditosos laços.


Aos bárbaros, injustos vencedores
Atormentam remorsos, e cuidados;
Nem descansam seguros
Nos palácios cercados
De tropa, e de altos muros.
E a quantos nos não mostra a sábia história
A quem mudou o Fado em negro opróbrio
A mal ganhada glória.
Eu vivo, minha Bela, sim, eu vivo
Nos braços do descanso, e mais do gosto:
Quando estou acordado
Contemplo no teu rosto
De graças adornado:
Se durmo, logo sonho, e ali te vejo.
Ah! nem desperto, nem dormindo sobe
A mais o meu desejo.


" Eu lírico delirando por Marília", travando batalhas inconsciente, sobre o amor de sua amada ", conversando com ela sobre os atos virtuosos de Dirceu, que só ele e somente ele era digno de seu amor"



Lira XXIV – parte 2


Eu vou, Marília, vou brigar co'as feras!
Uma soltaram, eu lhe sinto os passos;
Aqui, aqui a espero
Nestes despidos braços.
É um malhado tigre: a mim já corre,
Ao peito o aperto, estalam-lhe as costelas,
Desfalece, cai, urra, treme, e morre. 
Vem agora um Leão: sacode a grenha,
Com faminta paixão a mim se lança;
Venha embora; que o pulso
Ainda não se cansa.
Oprimo-lhe a garganta, a língua estira,
O corpo lhe fraqueia, os olhos incham,
Açoita o chão convulso, arqueja, e expira. 
Mas que vejo, Marília! Tu te assustas?
Entendes que os destinos inumanos
Expõem a minha vida
No circo dos Romanos?
Com ursos, e com onças eu não luto:
Luto c'o bravo monstro, que me acusa,
Que os tigres, e leões mais fero e bruto. 
Embora contra mim raivoso esgrima
Da vil calúnia a cortadora espada;
Uma alma, qual eu tenho,
Não se receia a nada. 
Eu hei de, sim, punir-lhe a insolência,
Pisar-lhe o negro colo, abrir-lhe o peito
Co'as armas invencíveis da inocência. 
Ah! quando imaginar, que vingativo
Mando que desça ao Tártaro profundo,
Hei de com mão honrada
Erguer-lhe o corpo imundo.
Eu então lhe direi: "Infame, indigno,
"Obras como costuma o vil humano;
"Faço, o que faz um coração divino"


" Eu lírico em seus  delírios, numa trova e luta com um leão, que seria a vida se esvaindo  anunciando a morte" mas sem nunca esquecer de sua Marília"


"Marília de DIRCEU, o livro"


Vídeo da Cantora Dido "White Flag", explica visualmente o Platonismo:

"A ideia do vídeo é transmitir a estória de duas "almas gêmeas", que  nunca se encontram, mas se sentem, na  alma, amor Platônico......

Click no link e veja 

"Uma  possível análise dos trechos poéticos de Marília de Dirceu, no ponto de vista das características Literárias a qual se insere o Poema, "Arcadismo" .Tomás Antônio Gonzaga propôs em sua obra a exposição de um amor puro, simples, junto á natureza, vivendo humildemente aquilo que todos querem: "Um amor verdadeiro, sem fronteiras com a Pessoa que se ama, e viver simplesmente para amar"


Por Lady Hannah

Fontes: livros de Literatura, sites de busca Literária, história e biográfica 

Comentários

  1. EU TENHO UM AMOR PLATÔNICO......GOSTEI DO VÍDEO.!!!!!PARÁBENS PROF....

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  2. vc está de parábens!! eu de novo aqui lendo seus textos maravilhosos!beijos..está me ajudando muito na minha aulas de literatura!

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