Soneto "O Amor é fogo que arde sem se ver" Camões (possível análise)

 

"Luís Vaz de Camões"


Luís Vaz de Camões, nascido em Lisboa em torno de 1524,.  faleceu em Lisboa no dia 10 de junho de 1580. Estudou num convento e mais tarde se tornou professor de história, geografia e literatura. Camões chegou a entrar no curso de Teologia, mas acabou por desistir da empreitada. Por fim ingressou no curso de Filosofia.


Camões tinha uma personalidade  boêmia e teve uma vida conturbada, repleta de confusões e casos amorosos. Uma das suas paixões mais ardentes foi com D.Catarina de Ataíde, dama da rainha D. Catarina da Áustria, "Esposa  de D.João III".


 Por causas desses amores infiéis, foi desafiado a muitos duelos; um em especial, do qual participou, acabou por ser preso e encarcerado  durante um ano em  Lisboa. A fim de fugir das inimizades que havia criado, em 1547 o poeta se voluntariou para serviu como soldado na África. Assim,  assistiu às conquistas marítimas do grande império português na aquisição de colônias. Durante os dois anos de serviço em Ceuta combateu contra os mouros, o que lhe custou a perda do olho direito.


Durante  esse tempo, Camões  voltou a ser boêmio, e escreveu  o Clássico Poema épico "Os Lusíadas", maior tesouro da Literatura Portuguesa. Além disso, continuou escrevendo seus poemas, a maioria deles destacá-se o AMOR.



Amor é fogo e arde sem se ver (Possível Análise)



Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.


É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.


É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.


Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor



Esse  soneto de Luís Vaz de Camões, é o mais  famoso poema desse escritor Fantástico da literatura clássica Portuguesa. foi publicado na segunda edição da obra Rimas, lançada em 1598 (Classicismo Português) as características gerais do estilo camoniano são o amor, a fantasia, a cultura greco-romana e o bucolismo; 


Camões usa no soneto artifícios paradoxiais  para explicar um conceito tão complexo como  O AMOR; exemplos disso é toda a estrofe poética;

ressaltamos pequenos trechos para intensificar a afirmação:


"Ferida que dói, e não se sente"

é um contentamento desconte" 


Voltando ao  recurso estilístico  do paradoxo, em todo o poema há a contradição de idéias, ao justificar o AMOR , esse descrito de uma forma contraditória, ao mesmo tempo possamos sentir contentamento e ao mesmo tempo é descontente,  o AMOR nos deixa sem nexo, "O amor arde sem se ver "  


Outro ponto importante é que o poema de Camões  é construído baseado num raciocínio lógico que leva a uma conclusão final. Essa argumentação fundamentada na apresentação de afirmações que leva a uma consequência lógica final é chamada de silogismo.


No poema de Camões, as afirmações são feitas nos dois quartetos e no primeiro terceto, sendo a última estrofe a conclusão do silogismo.


Na última estrofe, Camões apresenta a sua conclusão; ou seja, começo, meio e fim.


Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor


O formato do soneto clássico e a sonoridade estão diretamente relacionados ao conteúdo do poema. Nas onze primeiras estrofes temos o desenvolvimento de um raciocínio, e, nessas estrofes, observamos uma sonoridade próxima por conta das rimas e da pausa na sexta sílaba métrica.


Um dos pontos mais abordados sobre o amor é em relação à lealdade daquele que ama em relação ao amado. As cantigas medievais versavam constantemente sobre esse sentimento de servidão, e o autor não deixa de colocá-lo no seu poema, usando sempre a antítese para construir o seu argumento.


É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.


Camões exprime a dualidade desse sentimento de uma forma exemplar. Alcançando o cerne de um dos sentimentos mais complexos que existe; que nos provoca tanto prazer e sofrimento ao mesmo tempo.


Versos atemporais


O poema se torna atemporal na medida em que o tema abordado é universal e as figuras usadas para desenvolvê-lo são complexas e belas. Camões consegue conciliar imagens muito opostas para explicar o que é o amor.


Camões é um desses poetas. Seu soneto é um desses exemplos de uso fino da palavra, da criação de figuras e imagens, que nos ajudam a entender um pouco de nós mesmos.


Estrutura poética


O poema acima de Camões é um soneto italiano.


O soneto é uma forma fixa de poesia que consiste em quatro estrofes: os dois primeiros com quatro versos "quartetos" e os últimos com três versos "tercetos". A estrutura costuma ser a mesma: começa com a apresentação de um tema, que passa a ser desenvolvido, e, geralmente no último verso, contém uma conclusão que esclarece a questão.


A poesia de Camões segue a fórmula do soneto clássico. É decassílabo, o que significa que contém dez sílabas poéticas em cada estrofe. A sílaba poética, ou sílaba métrica, se diferencia da gramatical porque ela é definida pela sonoridade. A contagem das sílabas em uma estrofe termina na última sílaba tônica.


/é/ um/ con/ten/ta/men/to/ des/con/ten/te


1 * 2 *3 * 4 *5 * 6 *7 *8 * 9 * 10 *


Nas primeiras onze estrofes podemos observar uma cesura na sexta sílaba poética. A cesura é uma pausa rítmica no meio da estrofe. O poema possui um esquema rímico clássico, formado por ABBA, ABBA, CDC, DCD.


A = ver; B= descontente; B; Sente A; Dor.


"Sonetos de Camões"



Por Lady Hannah
Fontes: Wikipédia, Livros de Literatura


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