Literatura Gótica
Outras leituras possíveis da literatura gótica envolvem destacar nos romances o uso da psicologia do terror (o medo, a loucura, a devassidão sexual, a deformação do corpo), do imaginário sobrenatural (fantasmas, demônios, espectros, monstros), das reflexões sobre o Poder (colonialismo, o papel da mulher, sexualidade), da discussão política (monarquismo, republicanismo, as Revoluções, a industrialização), dos aspectos religiosos (catolicismo, protestantismo, a Inquisição, as Cruzadas), das concepções estéticas (neoclassicismo, romantismo, o Sublime) e filosóficas (a Natureza, Platão, Aristóteles, Rousseau), além de outras possíveis chaves interpretativas.
Origem da palavra Gótico
Em princípio, "gótico" é um adjetivo que se refere a tribo dos Godos, povo de cultura germânica que habitava a região do baixo Danúbio, localizados na parte leste (Ostrogodos) e na parte oeste (Visigodos). Sabe-se muito pouco a respeito desse povo, já que eles não escreviam, e o que chegou até nós foi por intermédio do bispo Ulfilas, que registrou sua língua e costumes enquanto ensinava-lhes a Bíblia. Atribui-se a esse povo participação no desmantelamento do Império Romano no século IV. Através de sucessivos ataques pelo norte, os Godos ajudaram a enfraquecer o poder central em Roma.
"Rei Visigodo" |
Posteriormente, os Godos invadiram grande parte do império romano e se tornaram rapidamente romanizados. Os Visigodos se espalharam pela Europa, no século V, e chegaram até a península ibérica. Sua presença poderia ser notada em palavras como Catalunha, de Gothalania (não comprovado), Fernando , de Frithernandus (não comprovado) e albergue, de Haribergo. Sendo um povo nômade e de pouco registo cultural os traços sua presença já haviam sido diluídos pela cultura romana no século VII. A presença gótica em Portugal é tratada num contexto histórico e ficcional pelo escritor Alexandre Herculano em
Eurico e Présbitero (1844).
"O Livro" |
No século XII, o monge Suger surge com uma inovação arquitetônica que promete acabar com as igrejas escuras. a Igreja de Saint Jaimes é a primeira a utilizar a substituição das paredes por vitrais coloridos, avanços estes obtidos através de arcobotantes, cruzarias e contrafortes como opções de sustentação. O crítico de arte Vasari batizou esse novo estilo de gótico ou estilo ogival, cujo arco quebrado seria símbolo de mão postas ao céu em oração.
Literatura Gótica em sua Época
A década de 1790 representou o auge da literatura gótica, é nesse período que suas principais obras são escritas consagrando autores como Ann Radcliffe e Matthew Lewis, por exemplo. Entretanto, se o termo 'gótico' já era conhecido na Inglaterra desde a época Shakespeare, até esse momento ainda não havia ainda consolidado um significado confortável para a palavra. 'Gótico' era empregado em um encontro de vertentes políticas e condições históricas, de ansiedades sobre a vida que encontrariam sumarização por meio de romance.
Dizer "gótico" podia ter diversas conotações, dependendo de lado a discussão se estava. Naquele contexto a palavra podia conotar: antiquarianismo inglês, diletantismo do partido Whig, influências do sturm und drang alemão Jacobinismo, ocultismo e medo de sociedades secretas, nacionalismo inglês conservador, anti-catolicismo, medo da Inquisição, nostalgia do mundo feudal, medo da Revoluçao Francesa e uma série de outros significados antagônicos entre si. Apesar de ser um movimento multi-facetado, reflexo de conjunturas históricas e políticas, pode-se notar que a Literatura Gótica, em grande parte, uma literatura ligada ao terror e ao medo.
Talvez, uma melhor maneira de se compreender o gótico na literatura seja entendê-lo como um momento narrativo no qual a nossa razão é desafiada por um acontecimento insólito. Como discurso literário, o efeito "gótico" consiste na criação de uma atmosfera narrativa, que deve envolver o leitor na história, para em seguida assustá-lo, mas de modo que lhe provoque prazer. Entendida assim, como efeito narrativo, a literatura gótica é um dos mais influentes modelos narrativos para as histórias de horror e terror que temos atualmente.
Características
Há uma relativa consistência nas convenções narrativas que fazem do Romance Gótico uma literatura reconhecível como tal, mas que não chega a constituir um gênero. O romance gótico é uma manifestação essencialmente híbrida, um elo entre o romanesco e o romance no qual uma atmosfera de mistério, aflição e terror prevalece. Chamados de “góticos” por retirarem sua inspiração de construções medievais, em parte, pode-se dizer que tais romances representaram uma volta ao passado feudal, provocada pela desilusão com os ideais racionalistas e pela tomada de consciência individual frente aos dilemas culturais que surgiram na Inglaterra a partir da metade final do século XVIII.
Por este ângulo, o romance gótico representa uma mescla de tradições distintas, uma mistura entre o mitológico e o mimético, entre imaginação e realidade. A proposta subjacente seria o retorno a uma época de sonhos, contra o materialismo burguês e, até certo ponto, de encontro às características gerais do Iluminismo. Nesses romances aquelas convicções mais simples do pensamento cartesiano e racionalista são postas em dúvida em detrimento de um discurso do sentimento, o qual, ora choroso ora violento, é freqüentemente exagerado na sua representação das emoções. À luz de uma filosofia da literatura, o romance gótico levantou questões que desafiaram o projeto das Luzes ao expor, em parte, a natureza caótica do mundo e a contingência da vida. Ao se encarregarem de uma disposição existencial mais lúgubre, tais romancistas abrem um caminho para o surgimento da psicanálise do século seguinte, apresentando em suas narrativas a divisão ontológica do ser humano em duas grandes matrizes constitutivas: às vezes equilibrado, racional, harmônico (clássico) e às vezes exaltado, sentimental, excessivo (então gótico, ou possivelmente barroco.
Em oposição à filosofia neoclássica, de procedência aristotélica, os autores góticos investiram na criação de imagens obscuras e representações simbólicas. O medo e o anseio pela morte foram temas centrais nessas narrativas cujos enredos oscilavam entre a realidade verificável e a aceitação de um mundo sobrenatural. O romance gótico catalisou imagens que, devidamente adaptadas, reaparecerão no romance histórico do século posterior. Alguns exemplos recorrentes dessas imagens iniciais são: abadias decadentes habitadas por clérigos maléficos, castelos sinistros onde aristocratas tirânicos vivem isolados da sociedade como um todo. Dentro desses cenários, é possível que portas se fechem misteriosamente e velas se apaguem com uma súbita rajada de vento ao se caminhar em corredores escuros. Enquanto isso, personagens se locomovem através de passagens secretas ou se escondem em úmidos recintos subterrâneos. Em contraposição às ambientações internas, geralmente tensas e claustrofóbicas, também são freqüentes nesses romances as representações de quadros externos, ou seja, a interpretação de cenas da Natureza. Entretanto, o interesse por tais temas naturais não foi exclusividade da narrativa gótica e remontam a tradição clássica. A Natureza, enquanto tópico literário, já se encontra presente em Horácio e em Virgílio, cujo conceito de locus amoenus seria revisitado pelo neoclassicismo. Todavia, a Natureza nos romances góticos freqüentemente se reveste de um certo terror, cujo efeito é alcançado por uma retórica do excesso, uma linguagem hiperbólica com ênfase adjetival que torna o cenário grandioso e intimidante: vastas paisagens, montanhas, abismos, vulcões, tempestades, mares revoltos, cachoeiras trovejantes, florestas escuras nas quais bandidos cruéis espreitam e as heroínas perseguidas temem (e os leitores desejam) que o pior lhes aconteça.
Enquanto fenômeno comercial, o romance gótico, essa ficção pré-romântica e pseudomedieval, foi intensamente produzida e avidamente lida na Inglaterra do final do século XVIII até o começo do século XIX. Durante o período os romances góticos haviam se tornado voga e obsessão entre um público leitor que não se cansava de consumi-los. A publicação desses romances havia virado um negócio rentável para livreiros e escritores profissionais constantemente ocupados em suprir a demanda de um número crescente de leitores e em prover lançamentos para os gabinetes de leitura.Mas o ciclo de prosperidade teve curta duração. O romance gótico alcança seu auge na década de 1790, com a publicação das obras que consolidam suas características principais. Todavia, ao final da próxima década esses romances já eram tido como um produto literário “obsoleto”, criticado em seus aspectos mais extravagantes.
O grande sucesso de público deu início a uma série de lançamentos do mesmo formato. O furor desencadeado pela ficção gótica ocasionou uma produção enorme, em sua maioria direcionada para a venda e com pouca preocupação pela inovação literária. As imagens e símbolos usados pelos autores para a criação de efeito (ruínas, monastérios, castelos, labirintos, igrejas), as ambientações em países distantes e católicos, a donzela em perigo, seriam exemplos desses lugares-comuns. Primeira literatura pré-fabricada da História, a saturação da produção, a complexidade e previsibilidade dos enredos seriam os motivos para o declínio desse gótico passível de formularização, em função de uma literatura vitoriana de aspectos mais referenciais e contemporâneos, mas que volta e meia vê o gótico ressurgir nos espessos fogs londrinos de Dickens, por exemplo. Esse gótico reaparecerá no Romantismo do século seguinte fornecendo 1) quase uma cartilha para uma estética de efeito, 2) um inventário de objetos e situações e 3) a relação psicológica do homem com aquilo que ele considera o mundo exterior, embora o entendimento da cultura e da História já tenha mudado.
Gótico, terror e comédia
The Castle of Otranto, subtítulo a gothick story (1764), escrito por Sir Horace Walpole, é a obra seminal que marca o uso do termo gótico em literatura pela primeira vez. O pequeno romance, O Castelo de Otranto é um autodeclarado híbrido entre o antigo e o moderno , entre o romanesco e o romance, colocando em cena um elmo monstruoso, espadas gigantes, uma mão invisível, calabouços labirínticos, quadros fantasmagóricos e toda a parafernália sobrenatural que faria o sucesso dos romances góticos subseqüentes. A veia teatral e cômica desta narrativa são aspectos declarados pelo próprio autor no prefácio à segunda edição (1765), mas que a crítica especializada não costuma destacar. Walpole foi um erudito, um diletante e um entusiasta da idade medieval e, a leitura do romance deixará patente que ele não pretendia ser levado a sério com este livro. O interesse do autor por assuntos medievais se manifesta nas descrições meticulosas do cenário, já que a narrativa investe na representação de átrios, pórticos, abóbadas, criptas e galerias. São precisamente essas características arquitetônicas que conferem o status de “gótico” ao romance walpoliano.
"Castelo de Otranto, livro" |
Não obstante, dos acontecimentos de inspiração sobrenatural desta obra derivará a tradição gótica inglesa, toda a literatura de Ann Radcliffe, o ser errante de Charles Maturin, Melmoth, the wanderer (1820), Drácula (1897) e Bram Stoker, todo o imaginário gótico anglo-americano do século XIX, nomeadamente, os contos de Edgard Allan Poe e Nathaniel Hawthorne, assim como as histórias de suspense, de detetives, romances policiais e thrillers contemporâneos. No momento assistimos à era digital reatualizar o gótico por meio de cartoons, graphic novels e videogames.
Obras Clássicas Góticas
The Castle of Otranto (1764) escrito por Horace Walpole
Vathek, an Arabian Tale (1786) escrito por William Beckford
The Mysteries of Udolpho (1794) escrito por Ann Radcliffe
Caleb Williams (1794) escrito por William Godwin
The Monk (1796) escrito por Matthew Lewis
The Italian (1797) escrito por Ann Radcliffe
Clermont(1798) escrito por Regina Maria Roche
The Children of the Abbey (1796) escrito por Regina Maria Roche
Frankenstein(1820) escrito por Mary Shelley
Melmoth the Wanderer (1820) escrito por Charles Robert Maturin
A Persistência do Movimento Gótico, Obras.
Northanger Abbey (1818) escrito por Jane Austen
Nightmare Abbey (1818) escrito por Thomas Love Peacock
Carmilla(1872) escrito por Joseph Sheridan le Fanu
The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1886) de Robert Louis Stevenson
The Picture of Dorian Gray (1891) escrito por Oscar Wilde
Dracula(1897) escrito por Bram Stoker
The Turn of the Screw (1898) by Henry James
The Monkey's Paw (1902) escrito por W.W. Jacobs
Uma Curiosidade
Tradicionalmente, a Mulher nasceu para ser salva pelo herói, o qual possui um papel secundário nas obras, inclusive na pura literatura gótica, que ocorre em pleno processo de emancipação feminina, e cujas mais importantes autoras são mulheres.
Exemplos: Emily Brönte, Ann Radcliffe, Merry Shelley, "Clássicas", Stephenie Meyer(Saga Crepúsculo) e Anne Rice (Entrevista com o Vampiro).Vídeo Trailer "Entrevista com o Vampiro"
Vídeo Arte Gótica
Poesia Gótica Contemporânea
A literatura gótica é uma vertente literária que representa o Romantismo mais direcionado ao mistério e ao lado obscuro. Trata, sobretudo, de temas que contradize costumes, tradições e cultura de uma dada sociedade. Em uma narrativa mais negativa, mas ainda assim que retrata muito mais o metafísico do que propriamente o físico. Uma idéia de priorizar os pensamentos das personagens; as visões das mesmas, do que propriamente, as vivências românticas, todos esses fatos podemos constatar nas leituras das obras, que por sinal são fantásticas.
Fontes: livros literários, sites de busca Literária e histórica, Wikipédia, Youtube
Muito obrigada por ter apreciado! Volte mais vezes 🥰
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